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CINEMA GRATUITO : Um filme de Federico Fellini - E La Nave Va
23/05/2023

CINEMA GRATUITO :Um filme de Federico Fellini - E La Nave Va

Na abertura, é mostrada uma cena em julho de 1914, imediatamente antes do lançamento ao mar do navio Gloria N.. Toda a seqüência de abertura é feita em tons de sépia, como se houvesse sido filmado realmente naquela época, e sem nenhum outro som além do ruído do projetor. Gradualmente, a sépia dá lugar ao filme colorido e podemos ouvir o diálogo das personagens. O Sr. Orlando é um jornalista italiano; ele encara a câmera e explica que a viagem é um tipo de funeral, com o objetivo de dispersar as cinzas da cantora lírica Edmea Tetua em torno da ilha de Erimo, onde ela nasceu. Explica que Edmea Tetua foi a maior cantora de todos os tempos e que tinha a voz de uma deusa.

Certa manhã, os passageiros descobrem que há um grande grupo de refugiados sérvios no convés do navio. O capitão os havia recolhido na noite anterior. Um dos passageiros é o arquiduque de Herzog (parte do Império Austro-Húngaro) e seus assistentes consideram os refugiados como uma ameaça à segurança. Eventualmente, um navio de guerra austro-húngaro aparece e exige que os refugiados sejam entregues, presumivelmente para serem feitos prisioneiros ou escravizados.

Na parte final, o filme assume um tom decididamente surrealista. Numa cena invertida, o diretor revela os estupendos bastidores de sua ópera flutuante - gigantescos macacos hidráulicos (construídos pelo vencedor do Oscar- Dante Ferretti) que simula os movimentos da navegação marítima, além de um oceano de plástico, cercados por um exército de técnicos criando a fumaça para o desastre no clímax do filme.

Finalmente, uma enigmática figura está atrás da câmera filmando Orlando na última cena: o jornalista está num bote salva-vidas com o rinoceronte, aparentemente feliz. Ele diz, confidencialmente olhando para a câmera: Você sabia que rinocerontes fêmeos produzem um excelente leite? E, em seguida, desaparece em um imenso oceano de plástico.

Usualmente, existe um contrato entre o diretor e o público para que este alcance a imersão total. Durante a história, para que nunca lembremos de que estamos vendo um filme, algo irreal, o cineasta precisa esconder como pode as traquitanas do seu ofício. Em troca, nossas descrenças são colocadas de lado e abraçamos a magia, nos deixando levar pela obra. Em E La Nave VaFellini não está preocupado com este contrato. Pelo contrário, ele faz questão de que lembremos a todo o momento que tudo não passa de fantasia naquele barco. Para tanto, o céu e o mar são visivelmente artificiais, o set do navio (por mais luxuoso) é notadamente um set cinematográfico. Até o pássaro que bica sua entrada pelo restaurante é falso (ao menos o que está na janela). Se já não bastasse isso, o narrador da história quebra a quarta parede, conversando com o público, e até o cenário flutuante do navio nos é mostrado nos minutos finais do filme. Ou seja, Federico Fellini é um ilusionista mostrando seus segredos. Ele sabe que a mágica não ficará menos interessante caso todos entendam como ela funciona. E o mestre estava certo. Fellini faz um interessante paralelo entre a nobreza européia pré-guerra mundial e os convidados daquele navio, mostrando que o passado abastado ficaria apenas na memória daqueles ricos cidadãos. A forma como a pobreza os invade – representados pelos refugiados sérvios – e como cada um reage aquele momento é um comentário sagaz do cineasta, que não abandona seu senso de humor mesmo apontando sua câmera para assuntos mais sérios. Na melhor cena do longa-metragem, os pavões cantores de ópera fazem uma competição vocal em plena sala das máquinas, entretendo os trabalhadores braçais enquanto massageiam seus egos. Uma crítica certeira do cineasta à alta cultura, que não parecia muito afeita a chegar nas camadas mais pobres, o fazendo apenas na forma de uma competição leviana.

Sottotitoli: in portoghese

Ingresso gratuito fino ad esaurimento dei posti disponibili.

Orario: dalle ore 19.00 

Casa di Dante - ICIB Instituto Cultural Italo-Brasileiro

Rua Frei Caneca, 1071

Tel.: 3285.6933